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Quando a ansiedade não tem nome: reflexões de um psicólogo sistêmico

  • psicologomaiconoli
  • 22 de jul.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 29 de jul.

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No consultório, escuto com frequência pessoas que chegam dizendo:

“Eu não sei de onde vem essa ansiedade.”

“Parece que meu corpo está sempre em alerta.”

“Eu queria conseguir controlar isso, mas não consigo.”


Esses relatos me tocam profundamente, porque mostram o quanto a ansiedade, apesar de tão comum, ainda é algo difícil de ser nomeado, compreendido e acolhido. E o que observo, enquanto psicólogo que atua com a abordagem sistêmica, é que muitas vezes a ansiedade não está só dentro da pessoa, mas nas relações que ela constrói, nas pressões que carrega e nos silêncios que aprendeu a manter.


A abordagem sistêmica nos ensina a olhar o ser humano de forma ampliada, inserido em contextos — familiares, sociais, profissionais — que influenciam diretamente seus sentimentos, comportamentos e sintomas. E, sob essa lente, a ansiedade deixa de ser apenas um “problema pessoal” e passa a ser entendida como um sinal de que algo no sistema está em desequilíbrio.


Muitas pessoas que atendo não conseguem identificar o motivo da sua ansiedade porque, na verdade, ela não vem de um único lugar. Ela é, muitas vezes, o acúmulo de pequenas tensões diárias, expectativas silenciosas, medos que não são só seus, mas herdados, e a constante sensação de que é preciso dar conta de tudo — o tempo todo.


Vivemos em um ritmo acelerado, onde o futuro ocupa um lugar de destaque nas nossas preocupações. E quando o corpo passa a viver mais no que pode acontecer do que no que está acontecendo, ele responde: com insônia, cansaço extremo, dores, falta de ar, problemas gastrointestinais. É um corpo que carrega um mundo inteiro nas costas — e que grita, de formas muitas vezes silenciosas, por uma pausa, por um respiro.


Na terapia sistêmica, não buscamos “eliminar” a ansiedade como se ela fosse um inimigo, mas sim escutá-la:

Para que ela surgiu?

O que ela tenta proteger?

Que função ela tem nessa história?

E o que está sendo pedido por trás desse sintoma?


A ansiedade, embora dolorosa, pode ser um convite à mudança. Um sinal de que é hora de olhar com mais gentileza para si, de repensar relações, de se perguntar o que de fato é seu — e o que você está carregando por lealdade, medo ou hábito.


Talvez a ansiedade não desapareça de forma mágica, mas ao ser escutada com presença e acolhimento, ela pode se transformar. E esse movimento, por menor que seja, já é um começo.

 
 
 

1 comentário


bettomarx
30 de jul.

Texto sensível digno da sua abordagem como psicólogo.

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